sábado, 12 de outubro de 2013

Os carros do "Chora" e a Empresa de Viação Eduardo Jorge, Lda


Carro do Chora 1900


Os Carros do "Chora"

"Estes carros grandes e desajeitados [omnibus] começaram a fazer carreiras de passageiros depois que se constituiu a Companhia de Carruagens Omnibus em 1835, poucos anos depois das grandes cidades europeias.
Os carros tinham uma porta traseira e no interior um banco corrido de cada lado, com os quinze passageiros voltados uns para os outros. Eram puxados por quatro cavalos e transportavam, além dos passageiros, correio e encomendas.
(...)
Mas os mais célebres e que duraram mais tempo foram os carros do "chora", os "choras" que se bateram até com os eléctricos e não se deixaram absorver pela Companhia Carris.
A empresa era de um homem chamado Eduardo Jorge, conhecido pelo "Chora" porque nas reuniões com colegas estava sempre a "chorar" [lamentar-se] pela falta de lucros.
Com as dificuldades da guerra, dos impostos e a concorrência dos "eléctricos em 1917 os populares "chora" pararam.
Mas Eduardo Jorge, em 1929, fundou outra empresa de viação com autocarros de passageiros. Muitos lisboetas lembram-se ainda dos autocarros amarelos "Eduardo Jorge" com o dístico: Lisboa, Carnaxide, Amadora Queluz, Cruz Quebrada..."



Fargo, de 1938, Eduardo Jorge


Os Omnibus, Os americanos, O Chora e a Carris

Na Lisboa dos nossos avós a deslocação por via motorizada era um verdadeiro sonho. Em meados do século XIX começaram a circular os primeiros transportes colectivos de tracção animal.
Por volta de 1835, foram os “omnibus” (em latim, transporte para todos) os primeiros transportes colectivos que começaram a circular dentro da cidade. Eram carros grandes e desajeitados, com janelas de cada lado e porta nas traseiras, com lotação para 15 pessoas sentadas em bancos corridos, puxados por duas parelhas de animais.

A rede alargou-se em 1845 aos arredores (Lisboa-Belém, Lisboa- Sintra, Lisboa-Mafra).
Entre 1860 e princípios da década de 1890 os transportes públicos foram assegurados por 15  companhias de omnibus e uma companhia de transportes a CCFL.


um "Chora" em Lisboa




Contemporâneos foram os “Char-à-bancs” e os “Ripperts”, que eram abertos e só para o verão e ainda o Jacinto, o Florindo e o Chora.


Char à Bancs 

O Florindo

Rippert


O escritor Luciano Cordeiro e seu irmão Francisco, diplomata, obtêm os direitos de um sistema de transporte do tipo americano denominado “viação-carril urbana” a força animal, ­­cuja concessão trespassaram a um grupo de investidores brasileiros em 1871 (a Empresa Companhia Carris de Ferro teve sede no Brasil até 1876).


Em 17 de Novembro de 1873 foi inaugurada a primeira linha de “Americanos” (comprados a uma firma de Nova Iorque), que ia desde a Estação da Linha Férrea do Norte e Leste (Sta. Apolónia) e o extremo Oeste do aterro da Boa Vista (Santos).

Em 1878, Eduardo Jorge, então com 18 anos, vindo, como tantos, do interior pobre, empregou-se como moço de cavalariça nos “americanos”.


O «americano»


Em 1888, criou a sua pequena empresa de transportes, que fazia a carreira entre o Intendente e Belém, com tarifas económicas. Era o “Carro do Chora”, que veio a tornar-se o mais famoso concorrente dos "americanos". “Chora” foi a alcunha que lhe puseram os colegas por frequentemente se lamentar de ao fim de cada dia os seus ganhos serem sempre poucos.
Em 1892 foram eliminados os “”omnibus” e iniciou-se a monopolização progressiva da rede dos transportes públicos por parte da Carris.



um "Chora" em Lisboa

Em 1900 Eduardo Jorge tinha já 24 carros “Chora” em Lisboa.
Chegaram a circular em simultâneo os “Americanos”, o “Jacinto”, a “Lusitânia”, e o ”Chora”.
Em 1901 apareceram os eléctricos, os “amarelos”, da poderosa Carris e todos se lhe juntaram menos o “Chora” e o Jacinto, que preferiram­­­­­­­­­ continuar sozinhos. Eduardo Jorge colocou nos seus carros um letreiro “Esta Empresa Não Se Vende”.
A partir de 1905 toda a rede estava electrificada, “os americanos” desapareciam de Lisboa, mas o Chora resistia.





Em 1910, tinha 38 carros e o Governo da República, reconhecendo o seu contributo para o desenvolvimento da cidade, reduziu os impostos à sua empresa. Resolveu, então, fazer uma distribuição pelos seus colaboradores, correspondente a 50% do que poupava com essa redução.
Veio a guerra e vieram as dificuldades, contudo, o Chora só renunciou aos seus carros em 1917. Vendeu os cavalos e as mulas, pagou ao pessoal e incendiou todos os carros, para não irem parar à Carris, sua eterna rival.
De todos os concessionários de carreiras urbanas, somente Eduardo Jorge o “Chora”, conseguiu, à força de persistência e luta, circular os seus carros de tracção animal, durante três décadas, sem nunca ter aumentado os bilhetes, ficando os seus carros tão conhecidos, que ainda hoje são lembrados.




Aos 69 anos veio viver para a Venda Nova, Amadora, onde fundou uma nova empresa de viação, mas já com camionetas, todas iguais, amarelas, tal e qual como os carros eléctricos, aos quais não perdoava a sua derrota.
Em 1929 inaugurou a primeira carreira entre as Portas de Benfica e Amadora, que depois se prolongou até Queluz.
Em 1937 entrou com as suas carreiras em Lisboa, de onde, contra sua vontade, havia saído.
Morreu em 1940, mas as carreiras Eduardo Jorge continuaram ainda por muito tempo…

Fontes: “Páginas da História da Amadora” de Vasco Callixto;
“História da Carris” (página da internet);
“Lisboa Desaparecida”- Volume 3    





Fundada em 1888, a empresa de Eduardo Jorge foi uma das empresas que ajudou o alfacinha a deslocar-se dentro da cidade, de uma forma económica. suas carroças puxadas por mulas eram bem conhecidas dos lisboetas, que muitas vezes as preferiam em detrimento dos "americanos" da Carris, pois o preço das suas viagens manteve-se praticamente inalterado durante os 26 anos da sua existência.
Conhecido como o CHORA, alcunha que alguns afirmam derivar do facto de "se andar sempre a queixar", junto do seu círculo de amigos, devido às dificuldades que a forte concorrência da Carris lhe trazia, provavelmente deriva antes do facto das suas carroças produzirem ruídos que eram semelhantes a lamentos, quando calcorreavam as ruas da cidade.
Fechou as portas em 1917, pois não conseguiu sobreviver à concorrência que lhe era movida pelo carro eléctrico e pelas dificuldades resultantes do pós-guerra. Reabriu 12 anos depois, agora já não com o popular Chora, mas com uma empresa de camionagem, que tinha a sua sede na Amadora, e que se manteve até finais dos anos 70, altura em que foi nacionalizada e passou a fazer parte da Rodoviária Nacional.


Fargo, de 1938, Eduardo Jorge


A Empresa de Viação Eduardo Jorge, Lda. à data da nacionalização operava:
- 94 carreiras
- 250 autocarros (10 dos quais de turismo)
- Tinha 967,9 km concessionados, um nº médio de kms por carreira igual a 10,3.
- Total de trabalhadores: 926 (303 motoristas, 73 de escritório, 189 de manutenção e 343 no movimento)